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28 de junho de 2011

Tempos Passados


Há tempos venho percebendo que tenho pequenas angústias que somadas à outras e multiplicadas pelo tempo tornam-se grandes. E tenho pequenos prazeres que cultivados com paciência se tornaram um prazeroso modo de levar a vida: vendo pores-do-sol, tomando xícaras de café e me deliciando com vinis encontrados em lugares empoeirados.
Há um pouco menos tempo estou parada numa lanchonete olhando a chuva escorrer pelos vidros da janela e imaginando...
 – Com açúcar, senhorita? – Meus pensamentos foram brevemente interrompidos.
 – Sem, por favor, e bem forte.
Continuando o que eu dizia anteriormente, eu estava a imaginar como estaria agora aquele meu amigo de tempos passados, que locava filmes chatíssimos e fazia um cappuccino doce-de-mais e que prometera nunca me deixar e bem... me deixou, num dos piores momentos que poderia ter escolhido para isso.
Ele fora cuidar da sua própria vida, "correr atrás dos sonhos", como ele disse, e quando se olha muito à frente existe a tendência de esquecer quem está ao seu lado.
E eu vou fazer o mesmo, esquecendo a parte de esquecer quem está ao meu lado e indo direto à parte de "correr atrás dos sonhos".
Para isso ando escrevendo mais, alguns contos sem pé nem cabeça, ando ignorando mais as críticas e os elogios, ando correndo,  na verdade, correndo do frio, da chuva que deixa meus olhos confundíveis com os de um panda, do vendo que deixa meus cabelos indescrivelmente bagunçados, e assim chego em casa e ouço o ronronar da minha gata malhada enquanto assisto um filme interessantíssimo com um cappuccino delicioso e unhas vermelhas  – que parei de roer.
Tento fazer isso depressa de mais, depressa o bastante para publicar meu livro de contos, mandar minhas críticas de filmes à um site importante, de ver o nascimento dos filhotinhos da Maggie – a gata malhada – mas principalmente, rápido o bastante para esperar ele, o meu amigo de tempos passados, que foi correr atrás de sonhos e deve voltar cheio de histórias para contar, ele deve trazer uma lembrancinha, que não-é-nada-de-mais-é-só-uma-lembrancinha, mas que significa muito, ele deve vir com os olhos brilhando, com planos de ir a aquela turnê mundial daquela banda que nós tanto planejamos, ele há de voltar pois os amigos, os bons amigos, eles sempre voltam e ficam mais tempo do que o esperado hospedados no sofá da sua sala ocupando espaço de mais nos cômodos da sua alma.

6 comentários:

  1. Uma bela crônica eu diria...Ando tamb correndo, deixando os sonhos me levarem.
    Bjss

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  2. Amigos são importantes, eles acabam marcando épocas de nossas vidas, como um perfume. Mas logo passa, os pensamentos passam, os ideais mudam, não só os dos amigos, os nossos também. E a amizade acaba sendo uma boa lembrança de tempos passados.

    rs,
    bjooos

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  3. É, eu acho que concordo, rs. Ou melhor... eu preciso concordar.

    Obrigada pelo comentário, beijos.

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  4. Pra dizer como Caio diria: Tudo que é verdadeiro volta... Parabéns pelo texto, muito bom. bjs

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